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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Os 100 anos do "Quebra de Xangô"







Cem anos após um dos piores massacres contra religiões africanas, o governo de Alagoas pediu perdão aos representantes negros de terreiros destruídos em uma ação policial, que incluiu espancamentos a pais e mães de santo.

Em 1º de fevereiro de 1912, tropas policiais lideradas por Clodoaldo da Fonseca - primo do então presidente da República, o marechal Hermes da Fonseca -, integraram a Liga dos Republicanos Combatentes, destruíram e queimaram terreiros e espancaram pais e mães de santos no episódio conhecido como "Quebra de Xangô". O objetivo era derrubar o governador alagoano Euclides Malta, que estava há doze anos no poder.

Pais de santo foram acusados de bruxaria. E a oposição ao governo de Euclides Malta fazia uma ligação dele com os líderes afro - era uma forma de desestabilizar o governo, que acabou caindo meses depois.

"A violência foi tão grande que existe medo em se falar do assunto. Para se destruir um povo, basta acabar com a identidade cultural e perceber que, com os anos, as pessoas não se reconhecem nessa história", disse a professora Maria Alcina, uma das estudiosas das religões africanas no Estado.

"A sociedade alagoana ficou partida, chocada com este episódio. Hoje, em nome de todo o povo alagoano, vim aqui pedir perdão a todos os povos afro, de todas as matizes, por uma tragédia que até hoje deixou marcas na história de Alagoas e para que sirva de exemplo para que não tenhamos episódios como este no futuro", afirmou o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB).

Na solenidade, religiosos se deitaram no chão, simulando o gesto dos pais e mães de santo na época: pisados e chutados pelas botinas da Liga Republicana.

O "Quebra de Xangô" está fora da maioria dos livros de história em Alagoas. E, em 100 anos, a violência continua. Alagoas lidera, no Brasil, os índices de homicídio e analfabetismo contra os negros, segundo o Ministério da Justiça. As chances de um negro morrer em Alagoas são maiores que em qualquer lugar do País.

A cientista social Ana Cláudia Laurindo diz que o perdão é um gesto simbólico, mas não são aplicadas mudanças nos números do passado e do presente.

"Alagoas é o Estado brasileiro que mantém um pelourinho simbólico para os negros em plena atividade, no tronco da miserabilidade, pagando com o derramamento de sangue pela ausência de políticas públicas. Se o governador apenas pedir perdão pelo quebra de 1912 e não efetivar políticas públicas pela preservação da vida dos nossos jovens negros, de nada adiantará o fato", disse.



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