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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Sábias palavras...





“O sagrado não tem cor, não tem condição física, nem instrução nem nada disso. O ser humano é livre para acreditar no que quiser. Não tem necessidade de todo negro ser de Candomblé. Na realidade o negro tomou conhecimento do Candomblé por causa das suas raízes, a África. Mas na África há pessoas que não são negras. Agora, cabe à gente desmanchar isso, nem destratar os brancos, nem puxar o saco porque é branco. Todos são seres humanos, todos têm o direito de ser bem-tratados, todos têm o dever de tratar bem os outros. Cada religião tem a sua hierarquia. Cada religião tem sua liturgia, tem seus dogmas, de acordo com a tradição de cada país, de cada local. Essa criação do mundo se dá de uma maneira: o grego viu de uma maneira, o africano de outra, o americano de outra... Ninguém é dono da verdade. Dono da verdade é quem estiver certo pra si e fazer tudo pra não prejudicar o irmão.”

Mãe Stella de Oxóssi

Ilê Axé Opô Afonjá

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Bodas de Pérola





Senti-me especialmente motivada a escrever hoje, porque pra mim hoje é um dia especial... Se meus pais ainda habitassem o Àiyé, estariam comemorando trinta anos de casados. Uma coisa que quase não se vê, nos dias de hoje, por que as relações amorosas se tornaram tão descartáveis.

Claro que os tempos são outros, as prioridades também mudaram, mas acho que o amor ainda permanece na moda. Todos querem um amor pra vida inteira, como no tempo de nossas avós. A diferença é que queremos um “amor” que se adapte às nossas necessidades, gostos... E na minha opinião, estamos cada vez mais egoístas e individualistas, e para criaturas assim, ceder é muito complicado.


Esses dias eu li no blog de alguém que o casamento é “CD duplo”, ou seja, tem que ceder de ambos os lados. Equilibrar os desejos do casal, descartar algumas coisas em prol de outras. Acho que essa é a receita para o sucesso de um relacionamento.

Respeito, cumplicidade, parceria são imprescindíveis. “Amar os defeitos e suportar as qualidades”, era o que minha mãe dizia... Muito jogo de cintura da parte dela, já que ela não se conformava com o fato do meu pai cozinhar melhor que ela (rsrsrsrs), entre outras coisas.

Bom, eu sou suspeita para falar, já que eu sou um dos resultados dessa união, mas acho que eles foram muito felizes. Lutaram juntos durante nove anos, até que o Pai Ogum chamou meu pai para o Orun. Minha mãe não quis refazer sua vida com mais ninguém, nem eu a censuraria por isso, mas eu acredito que eles realmente eram almas gêmeas, duas pessoas que se complementavam, pois eram o oposto um do outro. Ela ficou, terminou o seu trabalho (criar meu irmão e eu, nos encaminhar na vida...) e dez anos depois, foi a vez da Mãe Obá recolher a sua filha mais bonita para junto de si.

Assim são feitas as histórias de amor da vida real, encontros e desencontros, rupturas e continuidades... são costuradas com tênues fios de momentos felizes, mas no final sempre arrematadas com um nó “cego” de puro amor e carinho (que nem a vida ou a morte conseguem separar).


;)


quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Cada um dá o que tem... Mas nem todos são capazes de dar aquilo que é realmente importante






Quando eu era pequena, queria ser freira. Nem sabia o que elas faziam, mas o hábito e aquele perene semblante de paz delas me faziam pensar que não tinha nada melhor no mundo. Uma roupa bonita (?!) e um sorriso no rosto, para uma criança de quatro anos significava o modelo de felicidade. Meu pai me convenceu do contrário dizendo que se eu fosse freira não poderia ir mais em festa de Cosme, nem casar com o Jairzinho (do balão mágico).

Depois, aos seis anos, ganhei de natal do tio Catarino, padrinho de minha mãe, um quadro negro daqueles com giz e apagador que tem o alfabeto e os números pintados, pra eu ir “me acostumando com a escola”, segundo ele. Foi aí que eu decidi ser professora. Abandonei as brincadeiras de “fazer comidinha” (e os meus brigadeiros de terra com chocolate granulado, que uma amiguinha minha comeu pensando que era de verdade) para me tornar docente de minhas bonecas que, enfileiradas, passaram a ser minhas alunas.

No natal seguinte, eu já sabia os rudimentos da leitura e o tio Catarino me deu livros de presente: um era a “Bíblia da Criança”, um livro ilustrado de capa vermelha e o outro era do Lair Ribeiro, “Quem não se comunica se trumbica”, numa versão infantil. Detalhe, ele era um senhor que tinha pouco estudo formal, mas um homem sábio que lia jornal todo dia e entendia até de política externa.

Desde lá tudo que passar pelas minhas mãos, desde bula de remédio até Almanaque do Sadol (puxa, estou ficando velha!!!) eu leio. Se tornou um vício e um prazer pra mim a companhia dos livros.

Com nove anos eu subia num banco alto para pegar, em cima do guarda-roupa dos meus pais, a trilogia do Érico Veríssimo, “O tempo e vento”, que a minha mãe escondeu de mim por considerar uma leitura muito adulta e digamos picante, para uma pirralha como eu...

Nunca gostei de livros bobinhos, romances melosos ou com muita ilustração, mas sim dos livros densos, aqueles que te fazem ler três vezes a mesma página pra entender, ou aqueles literários que deixam um certo suspense no ar, que a gente só pára quando termina.

Depois quando fiz meu primeiro vestibular (que fiz meio de brincadeira) e passei no curso de Matemática, tudo que eu pegava na biblioteca da UFSM não tinha nada a ver com o meu curso, que acabei largando quando me encontrei na História.

Todo esse enredo aí de cima, é só pra mostrar como um pequeno ato pode influenciar a vida de uma pessoa, de forma a moldar sua existência. Às vezes de forma tão positiva que abre portas que ninguém é capaz de fechar, uma expansão de consciência que, sem este ato simples, talvez eu nunca experimentasse na vida. Sabe, uma boneca ia me entreter, mas não exercitar minha compreensão de mundo.

O bom exemplo constrói, eleva, transforma. O ato impensado, a palavra ríspida, o pouco caso, aniquila. Quantos dons foram podados por um comentário maldoso? Quantas potencialidades ficaram latentes e adormecidas pela negligência das pessoas, que trocam o correto pelo “mais cômodo”.

Eu não tenho filhos, mas tenho o Pedro, meu sobrinho de três anos. Este ano ele ganhou um passarinho de natal, com a condição de que ele seria o responsável por ele. Acho que no próximo natal ele vai ganhar um quadro, ao invés do boneco do homem aranha...



Comprometimento com o futuro, PASSE ADIANTE ;)  ...